segunda-feira, 10 de junho de 2013



CARTA AO PRIMEIRO-MINISTRO

Sr. Primeiro Ministro:

Apesar de tudo, duas virtudes lhe devem ser reconhecidas: a CORAGEM, por estar a governar sem se preocupar com a enorme penalização de votos no seu partido em próximas eleições e simultaneamente o facto de ter decidido cortar na despesa do Estado que consome a própria riqueza do País, tarefa que durante estas décadas ninguém se atreveu a fazê-lo; e a FORTALEZA, pela perseverança que tem demonstrado perante as constantes críticas, pressões e descontentamento quase generalizado.

Porém, agora, chegou a hora de ABALAR.

O seu semblante vai-se tornando cada vez mais macilento e o próprio cabelo dá já indícios de progressiva calvície. Imagino o próprio desassossego no seu ambiente familiar, a crescente intranquilidade e a preocupação daqueles que mais o estimam. O esforço tem limites e o cansaço pode gerar situações muito delicadas. As incoerências sucessivas são já sintoma disso. Dirá que ainda tem bastante energia e não se pode parar a meio do caminho…

Porém, agora, chegou a hora de ABALAR.

Em política, há uma realidade incontornável: NÃO SE PODE GOVERNAR CONTRA A VONTADE DE UM POVO. E isso é uma evidência que já não escapa ao cidadão mais comum. Bem sabemos que as populações, ao votarem, igualmente têm de assumir as suas responsabilidades, particularmente quando um governo detém uma maioria absoluta no parlamento. Mas acontece que, nos últimos tempos, o próprio Estado passou a ser o mais descarado e impune dos ladrões, tirando às pessoas aquilo em que jamais se deveria tocar e que até a anterior Ditadura sempre respeitou. Há certamente uma dívida externa e compromissos a cumprir, mas isso também é indissociável de um sistema mundial injusto e iníquo, em que certas nações exploram e oprimem outras nações e os juros cobrados são um verdadeiro atentado aos direitos humanos mais sagrados e universais. Nisso, o Parlamento Europeu tem culpas gravíssimas, pois, legislação aprovada em devido tempo e com carácter internacional, não teria deixado alguns dos seus Estados membros à mercê de autênticos piratas, como são as agências de “rating” e toda essa massa corrupta de investidores, oportunistas e gananciosos. Só os interesses subterrâneos e a incompetência podem explicar o facto de ainda hoje a European Union andar à procura de soluções e consensos que já deveriam estar estabelecidos logo nos primeiros anos da sua fundação! Sim, é sabido que as medidas de austeridade que implementou no País têm recebido elogios repetidos de personalidades lá fora…

Porém, agora, chegou a hora de ABALAR.

É claro que não vai demitir-se assim, de qualquer modo. Nem o Presidente da República poderia fazê-lo. Cabe sempre ao Parlamento decidir e a sua soberania, nesta matéria, sempre foi evocada e reclamada ao longo dos anos por todos os partidos, mesmo que alguns esqueçam isso, consoante “a lua” e “as marés”. Como, então, fazer? Apresente uma MOÇÃO DE CONFIANÇA, sem desligar dela as mais recentes medidas de austeridade a implementar, sobretudo na Função Pública e incluindo igualmente os anunciados cortes nas pensões dos reformados. Pedagogicamente, saberá também que “marinheiros” navegavam consigo no mesmo “barco”. Essa é a melhor porta por onde poderá sair e as próprias “águas” clarificar-se-ão. Há gente desejosa de governar o País e com as forças e a disposição que já não possui. Nunca alguém apresentou alternativa credível e que garanta sucesso? Deixe-os mostrar aquilo que são capazes de fazer. Por vezes as crianças precisam de mais um tombo, para conhecerem bem o terreno que pisam. Sim, poderá voltar ao poder quem deixou o País numa situação de pré-falência, mas o que o actual governo tem feito está a colocar os portugueses numa situação cada vez pior. Minuto após minuto, só aumentará o próprio prejuízo de tempo para si e para o País. Não queira ver-se numa situação muito deplorável, lamentando-se depois de nunca ter imaginado que isso pudesse mesmo acontecer! Sim, haverá uma hipótese, remota, de a MOÇÃO DE CONFIANÇA passar…

Porém, agora, chegou a hora de ABALAR.

Certamente, isto é uma análise um tanto materialista, pois a verdadeira crise global é outra, bem mais essencial e profunda, que tem a ver com a própria sobrevivência civilizacional. A presunção científica, a auto-suficiência e o relativismo irão ter à sua frente bem cedo um tremendo desafio: as calamidades naturais, que a loucura humana foi atraindo com toda a sua negatividade, um egoísmo feroz e o desrespeito por aquilo que nos transcende: os idosos, nas suas convicções morais e sabedoria; as crianças, na sua pureza e inocência; a sexualidade, na sua beleza e autenticidade; a própria vida, na sua fase mais sagrada, misteriosa e indefesa. Mas, então, através das “dores de parto”, se farão novas também todas as coisas! “Quem estiver de pé, veja lá, que não caia”…


www.myspace.com/rac.one

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