sexta-feira, 7 de junho de 2013



O TELEMÓVEL DE DARWIN


Eh, pá! Mas que lindo telemóvel tu tens! Isso deve ter custado uma fortuna…
Nem imaginas quanto isto vale. Escuta só estes sons polifónicos… Estás a ouvir?...

Estou encantado! Ainda não tinha visto algo semelhante…
Para ter uma coisa destas é preciso muita sorte! E ficas a saber que não me custou um cêntimo…

Vejo que o pai natal foi generoso…
Nada disso! Este telemóvel veio parar-me às mãos na praia.

Não estou a perceber…
Eu explico-te. Há dias, andava eu a dar um passeio pelo areal, quando, subitamente, vejo esta "tecnologia de ponta" a boiar numa onda e depois cair mesmo junto dos pés!

Espera aí… Disseste que o telemóvel flutuava?!...
Exatamente. De que te admiras? Essa é uma das propriedades que o tornam tão valioso. Flutua até numa bacia com água e no próprio lavatório.

Estás a brincar comigo!...

Olha, pergunta ao César, se quiseres. Confirmará o que te digo. De Física, ninguém percebe mais do que ele. E já devias saber que isto está sempre a evoluir…

Certo… Disso não tenhamos dúvidas. Os japoneses são capazes de tudo!... Mas há uma coisa que não compreendo: De quem é o telemóvel?... Sim . porque, se, um dia, o dono te apanha com ele, vai ser um problema dos diabos…
Ó pá, tu és mesmo de compreensão lenta! O “té lé lé” não pertenceu a alguém e nem sequer foi produzido numa fábrica.

Não estou a perceber…
Pois não! Eu ia precisamente explicar-te isso. Este telemóvel foi gerado apenas pelas forças materiais e pelo acaso. Resumindo: ele é um produto exclusivo da “evolução”.

É um produto exclusivo de quê?!
Escuta até ao fim e não me interrompas. Como te estava a dizer, isto, que vês na minha mão, aqui há milhões e milhões de anos, era uma substância líquida. Depois agregaram-se-lhe minerais até se tornar numa massa compacta e rija. A seguir, o ar, água e o fogo foram-lhe dando a forma e as funcionalidades belas e perfeitas que estás neste momento a presenciar. Tudo isto, é claro, num processo lento de muito milhões de anos. Com um pouco de sorte, pode ser que, um dia, o mar lance a teus pés também uma preciosidade destas…

Agora deu-te para brincar com coisas sérias! Só através de um milagre colossal o telemóvel poderia nascer dessa maneira, pá! E, mesmo assim, eu não acreditaria… Olha, tenho de ir andando. Com essa história maluca, até me puseste os neurónios avariados. Pelo menos, podias dizer-me onde posso comprar uma coisa dessas. Os sons polifónicos são mesmo um espetáculo!
E aonde ias tu arranjar tanto dinheiro?

É assim tão caro?! Não deve custar mais de uns mil euros. Julgo eu…
Pois julgas e julgas mal! Fica sabendo que este telemóvel vale mais do que tu.

Já chega de brincadeiras, pá! Agora comparas-me a esse poio que tens na mão?! Irra! Eu sinto e respiro. Sou um ser vivo e com inteligência. Não um… simples pedaço de metal!...
É como dizes! O ser humano é incomensuravelmente mais valioso e complexo do que o melhor objeto do mundo. Por mais histórias que te contassem, jamais acreditarias que este telemóvel é simplesmente fruto da “evolução”. Toda a gente compreende isso: mesmo não tendo assistido alguma vez ao seu fabrico, jurará, a pés juntos, que o telemóvel é obra, sim, de um ser inteligente. Basta olhar para ele. É uma evidência!... Há uma coisa, porém, que custa aceitar…

Sou todo ouvidos, pá!
Por ser um absurdo, ninguém acreditará (como tu, ironicamente, dizes) que este poio que tenho na mão possa, alguma vez, ser gerado exclusivamente, pela tal “evolução”; mas, não obstante uma pessoa ser incomparavelmente mais valiosa e complexa do que o telemóvel, porque respira e é inteligente, aí já não falta quem, como tu, acredite que o ser humano foi exclusivamente gerado pelas “forças materiais”!? Porventura, essas pessoas nunca olharam bem para si mesmas…

(Rui A C)

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